Depoimento de amigos:

  • Eglê Wanzeler
  • José Alcimar de Oliveira, professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas
  • José de Oliveira Barroncas
  • Ismael Menezes (amigo / egresso do curso de Letras ENS/UEA)

    Egle Wanzeler
    A partida da professora Graça Barreto deixa o Brasil mais triste! A graça da Graça era sua capacidade criativa e criadora de ver e viver no mundo de forma irreverente, alegre, despojada, sagaz, espirituosa, demasiadamente humana e solidária! Inteligente e generosa, sempre disposta a contribuir com o mundo, as pessoas, com vida! Graça me inspirou e me influenciou fortemente nas minhas escolhas e nos meus modos de pensarsentir e agir no mundo na luta por uma educação popular, gratuita, democrática e cidadã! Na luta por justiça social e por uma sociedade mais igualitária. Atuante nas causas das minorias, dos indígenas, dos homens e mulheres do campo, da infância e da educação popular! Minha colega e companheira de lutas na UEA! Sempre atenta e nos alertando! Amiga, doce e presente! Amiga generosa! Amiga querida, queria me proteger dos males das lutas!Dizia que me queria viva! Graça, minha amada amiga! Eu estou com saudades! Faz barulho aí no céu! Te amo! Esteja bem e nos ajude ai de cima. Daqui da terra, eu canto!”Gracias a la vida, que me ha dado tanto
    Me dio dos luceros, que cuando los abro
    Perfecto distingo lo negro del blanco
    Y en el alto cielo, su fondo estrellado
    Y en las multitudes, el hombre que yo amo”

    José Alcimar de Oliveira
    PROFESSORA GRAÇA BARRETO, Presente!A Educação Pública, a Universidade Federal do Amazonas, a Universidade do Estado do Amazonas, a ADUA – Seção Sindical, a Educação Popular, a Pedagogia Indígena, a Luta Social, nós que tivemos o privilégio da sua presença, perdemos hoje, neste 13 de novembro de 2022, nossa irredenta PROFESSORA GRAÇA BARRETO. Graça, como a tratávamos, tinha em sua constituição ontológica a força da irresignação, da inteligência, da memória, da liberdade de espírito, da crítica a tudo que bloqueia e oprime a dignidade do ser social, de modo especial a dignidade das crianças vítimas dos abusos, da violência
    e da opressão da gramática do capital. Tive a alegria de sua presença como professora de Didática Geral, em 1980, na graduação em Filosofia, na Universidade Federal do Amazonas e, em 2008, fomos colegas da primeira turma de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia, IFCHS, UFAM. Neste momento ela já está congraçada com Neide Gondim, Conceição Derzi, Paulo Monte, entre outras e outros colegas que nunca se renderam à confraria dos contentes e ao burocratismo que hoje domina a vida acadêmica. Graça com seus “palavrões” (na verdade, palavras necessárias) subtraía peso e hipocrisia à vida sob a ordem da moral burguesa. A Professora Graça partiu contra nossa vontade. Sua memória permanece. De sua existência só podemos conservar o que ativa a alegria da luta para superar tudo que perverte e diminui o bem viver.

    José de Oliveira Barroncas

    Minhas homenagens e condolências . Não fui aluno Graça Barreto na Universidade, mas com ela aprendi muito de organização da classe trabalhadora e principalmente de classe trabalhadora rural. Foi ela e o Professor Barreto que tornaram possível a organização do PT no interior do Amazonas. Foram os dois que contactaram o Francisco Massena, o Presidente da Fetagri e através dele chegamos ao Francisco Nogueira a maior liderança rural do Amazonas dando-nos condições de organizar o o PT no interior do Amazonas. Com isso o PT local se tornou uma das 9 Executivas Estaduais que permitiram o registro nacional provisório do PT no dia 10 de fevereiro de 1980, que passou a ser o dia da fundação do PT.

    Em termos de fundação do PT tudo se dava em Manaus. Mas a legislação eleitoral exigia que o nosso Estado tivesse no mínimo 9 executivas municipais. É nisso que Graça Barreto jogou um papel fundamental. É dizer, sem Graça Barreto e oprofessor Barreto o PT nasceria meses depois e não no dia 10 de fevereiro de 1980. A grande fundadora do PT, portanto, sem desmerecer ninguém, foi Graça Barreto, sem a qual não chegaríamos aos 8 municípios dentre os quais Urucurituba, Silves, Urucará e Itacoatiara.

    A conversa com o Francisco Massena foi no restaurante e choperia Lobos, onde hoje é um estacionamento, perto da rua Getúlio Vargas. Graça Barreto, presente.

    Ismael Menezes
    Ontem recebi a triste notícia de falecimento da professora e amiga Graça Barreto. Está sendo difícil lidar
    com a perda de uma pessoa tão importante, tão querida, com quem eu sempre aprendia tantas coisas.
    Lembro bem do dia que eu a conheci. Em 2013, eu e uma colega, que havia sido sua aluna, estávamos
    saindo da ENS, à noite, quando a encontramos. As duas se abraçaram e começaram a conversar,
    matando a saudade. Minha colega nem precisou apresentar. Quando a Graça falava, olhava também pra
    mim, fazendo perguntas, de certa forma me envolvendo na conversa. Em poucos minutos eu já estava
    conversando com ela também, como se já a conhecesse há um tempão, dando risadas, não querendo
    que aquela conversa acabasse.
    Despois desse dia, sempre nos encontrávamos nos corredores e eu já sabia que seríamos amigos. Ela
    passou a me convidar pra tomar sorvete, também pra ir junto com alguns colegas ao bar que ficava do
    lado da ENS. As rodas de conversa eram divertidíssimas. A Graça realmente era uma graça. Tinha uma
    irreverência, um pensamento rápido, um senso de humor super afiado, que nos fazia rir bastante. Mas
    também aprendíamos muito com a sua vasta cultura e inteligência. Livros, música, sexo, história, meio
    ambiente… Podíamos colocar qualquer assunto na mesa. Ela conversava sobre tudo e com uma das suas
    maiores qualidades: falar sem tabu, sem papas na língua. Falava principalmente sobre política. Inclusive,
    antes de 2016, lembro dela falando sobre a importância de todos se alertarem e lutarem contra a
    chegada do fascismo ao poder. Aliás, praticamente toda sua vida foi isso. Uma luta incansável contra o
    fascismo e em prol da educação popular, de qualidade, de uma sociedade justa e igualitária, o que a
    tornou, sem dúvida, uma das intelectuais mais importantes para a história e cultura do Amazonas.
    Convivi alguns anos com essa mulher inesquecível. Fortificamos os laços de amizade. Saímos juntos
    algumas vezes. Conheci sua casa, sua imensa biblioteca, sua família. Compartilhamos momentos tristes
    e felizes. Ela me consolou, aconselhou, brigou, ensinou. Também tive a honra de tê-la como professora
    na especialização. Ela me disse sorrindo em um dos primeiros dias de aula: “a gente sempre aprende um
    com o outro na praça, agora vamos aprender aqui em sala de aula”. Ela era insistente em fazer os
    discentes entenderem, soltarem a imaginação, criarem.
    Ganhei de presente, com muita alegria, o seu livro Na encruzilhada do Pecado, uma obra que envolve
    diversos ramos do conhecimento: História, Filosofia, Antropologia, Psicologia… E, como disse o poeta
    Aldísio Filgueiras, “um livro muito bom que só poderia ter sido escrito por quem não tem medo de
    pecar”. Pedi que ela fizesse uma dedicatória pra mim. Quando ela foi escrever, parou e disse brincando:
    “Quer saber? Só vou fazer a dedicatória depois que você ler e me explicar”. Nós dois rimos.
    A última vez que falei com ela foi no lançamento do seu maravilhoso O Jardim das Imagens – a infância e
    suas flautas sagradas, em junho desse ano. Na dedicatória, entre outras coisas, ela escreveu que
    esperava que a nossa amizade continuasse, dentro e fora da universidade. E depois me convidou pra
    almoçar na sua casa. Foi um dia maravilhoso.
    Se tivesse que definir a Graça apenas com substantivos, eu diria, entre outros: liberdade, amizade,
    irreverência, luta, amor, bom humor, seriedade, inteligência, valentia, engajamento, verdade.
    Sempre me despedia dela dando um beijo e um abração demorado. Ainda assim ficou a vontade de ter
    dado mais um beijo e abraço antes de sua partida. A saudade já é grande. Mas maior ainda é a gratidão.
    O que mais importante agora é tudo de bom que ela deixou em nós, todo o seu legado imenso que
    devemos seguir e levar adiante.
    Graça, de muitos modos você continua viva dentro de mim e nossa amizade continua. Te amo.
    Graça Barreto presente sempre!