É com muito alegria que estamos no 15º número de nosso boletim informativo e trazendo boas novidades para o conjunto dos associados da Sind-UEA. Finalmente a diretoria teve acesso à conta bancária do sindicato (no dia 29 de setembro/2025) e começamos a quitar as dívidas contraídas no período sem diretoria eleita. Temos como compromisso, saldar todas as dívidas e organizar o sindicato em uma sede novamente. Fechamos o contrato com a Consiglog (empresa que administra a margem consignada dos servidores estaduais) e voltaremos a averbar a contribuição sindical, acabando de uma vez por todas com os problemas de sindicalização. Nesse sentido, faremos contato com cada professor e professora que preencheu fichas de sindicalização no passado (e que chegaram em nossas mãos, infelizmente não foram todas) para efetivarmos a averbação.
No dia 30 de setembro, também participamos de um ato chamado pelo movimento estudantil da UEA que tinha como eixo a exigência do fim das relações de qualquer natureza (acadêmica ou contratos) com empresas ou universidades israelenses. Esse é um esforço do conjunto dos movimentos sociais para que as universidades brasileiras rompam relações com Israel que promove um genocídio televisionado, uma verdadeira limpeza étnica ao povo palestino. Esse movimento já foi vitorioso na Unicamp e na Universidade Federal Fluminense/UFF.
A UEA está em pleno processo eleitoral para reitoria (processo este que teve seu calendário eleitoral adiantado). Realizamos uma grande assembleia para a escolha dos representantes docentes na Comissão Eleitoral Geral (CEG). Esta assembleia contou com a participação de mais de 40 professores simultaneamente em Manaus, Parintins, Tefé e Tabatinga. Para além do processo eleitoral que já está “na rua”, é importante que consolidemos as pautas de reivindicação da categoria docente.
Nesse sentido, chamamos a categoria para que participem de reuniões que organizaremos nos locais de trabalho para a construção dessa pauta de reivindicações de professores. Como a Sind-UEA ficou dois anos sem diretoria executiva, achamos necessário reconstruir essa movimentação por nossos direitos. Muitas demandas já têm emergido para debatermos e lutarmos, tais como:
– Reajuste do Auxílio Localidade;
– Revisão do nosso PCCR;
– Discussão sobre Aposentadoria;
– Concurso para professores e técnicos;
Enfim, há muito pelo que lutar e isso exigirá de nós unidade e ação.
À luta, docentes!
Data-base UEA:
até quando a incerteza?
Já se configurou em um fenômeno histórico, porém agravado nos últimos anos, a ausência de um período de data-base para os servidores da UEA, bem como o descumprimento da garantia legal de revisão de salário anual para os trabalhadores, conforme orienta a constituição brasileira.
Ano após ano, o que tem sido constatado são simplesmente os servidores instados a aguardarem a boa vontade dos governantes em conceder seus direitos, fato este que pode ocorrer ou não, a depender dos interesses envolvidos e da disposição dos agentes patronais.
As consequências de tais práticas são bastantes evidentes: ausência de diálogo, falta de segurança e previsibilidade financeiras, retrocessos na qualidade da carreira e perda do poder de compra são alguns dos malefícios que atravessam a trajetória de professores e técnicos, que nunca sabem quando nem de que forma poderão ter assegurados seus interesses legítimos.
Na UEA, o último reajuste efetivado – sem data-base, ou seja, diálogo com a categoria – correspondeu aos anos de 2019 a 2021, ignorando períodos anteriores não compensados. quanto aos anos de 2022 em diante, não há qualquer notícia, muito menos sinais de montagem de uma mesa de negociação. Esta, aliás, parece uma miragem bem distante frente a uma gestão que veda até mesmo o planejamento financeiro mensal do servidores, autorizando a consulta aos contracheques somente em dias de pagamento.
Contra esse estado de coisas, o SINDUEA desde agora se levanta e ratifica seu compromisso em cobrar nossos direitos e exigir DATA-BASE JÁ! para todos os trabalhadores da Universidade do Estado do Amazonas.
Seguimos em luta
Precisamos falar sobre o PCCR:
um debate fundamental para a categoria docente.
A Lei 3.656 de 01/09/2011 instituiu o PCCR do magistério público superior e dos servidores técnicos e administrativos da Universidade do Estado do Amazonas durante a gestão do então governador Omar Aziz. Em 11/07/2014, a lei nº 4.061 (gestão José Melo) trouxe mudanças ao nosso PCCR, que ajustaram direitos em relação ao texto de 2011.
Hoje, porém, passaram-se quatorze anos da primeira aprovação e onze anos dos últimos ajustes, nesse sentido é hora de fazermos um balanço sobre o que avançamos e apontar necessárias mudanças.
O PCCR é um documento fundamental porque regulamenta salários, nossas progressões (por tempo de serviço e titulação), definiu a gratificação de produtividade (2014), o direito que todos os servidores tanto professores quanto técnicos têm de se qualificar (sabemos, porém, que especificamente no caso de professores, esse direito embora esteja assegurado não é necessariamente implementado devido às dificuldades de realização de contratos temporários). É o PCCR que define, também, o que compõem nosso vencimento (entre gratificações e adicionais) e, portanto, podemos projetar como será nossa aposentadoria.
Sendo a UEA uma universidade relativamente nova, em 2011 e 2014, a preocupação com a aposentadoria não era o foco dos professores, porém atualmente é uma das principais fontes de dúvidas e angústias que nos chegam na diretoria do sindicato e que tem, inclusive, demandado nossa assistência jurídica para a revisão de valores de aposentadoria.
Por isso acreditamos que devido ao decurso do tempo e ao balanço feito com a experiência das leis 3656/2011 e 4061/2014, precisamos novamente pautar o PCCR na nossa Universidade. Uma das principais demandas que nos chegam dos professores dos Centros do interior é o reajuste do adicional de localidade, que teve seu poder de compra corroído devido à inflação.
Outro importante debate é a implementação de Dedicação Exclusiva (D.E.) como regime de trabalho. A Dedicação Exclusiva poderia existir de forma opcional para aqueles que quisessem se enquadrar. Tal modelo é plenamente viável e já se encontra em funcionamento em diversas universidades estaduais que adotaram a D.E. Entendemos que sua implementação pode fortalecer a carreira do magistério superior estadual, contribuindo para a valorização docente e para o aprimoramento das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Consideramos, ainda, que a autonomia universitária da UEA possibilita o avanço nesse sentido. Assim, reiteramos que defendemos a D.E. como regime de trabalho opcional.
Entendemos que o ano de 2026 será decisivo para a retomada e o aprofundamento de duas pautas centrais: a data-base e o PCCR. Nesse sentido, propomos a criação de um Grupo de Trabalho (GT) com o objetivo de elaborar um estudo fundamentado sobre o histórico dos reajustes salariais, bem como calcular de forma precisa as perdas acumuladas ao longo dos anos. Também consideramos essencial promover reuniões por locais de trabalho, a fim de realizar escutas com a categoria e consolidar propostas de alteração no PCCR e nas reivindicações referentes à data-base de 2026.
Reitoria 2025:
o que não pode faltar no debate eleitoral.
De modo estranhamento antecipado, a comissão eleitoral da Universidade do Estado do Amazonas apresentou o edital com as regras para as eleições com vistas à escolha de reitor e vice-reitor da instituição, a ocorrer em 18 de novembro próximo. De início, chama-nos atenção a mudança do já tradicional calendário que assegurava o certame nos primeiros meses do último ano da gestão vigente. Tal fato, embora não pareça a princípio prejudicial, merece ao menos uma explicação. De todo modo, seguimos por enquanto.
Nosso intuito, aqui, é elencar os temas que são de interesse da categoria docente e da comunidade acadêmica para um debate sobre os rumos da universidade. Em um sistema de democracia representativa, a eleição é o melhor momento para debater problemas e propostas de melhorias, as quais, no caso da UEA, são muitas a serem feitas. Assinalamos abaixo algumas que consideramos serem as principais:
1-Espaço físico – integração das diversas escolas existentes em Manaus; espaços adequados com salas suficientes e gabinetes de atendimento para os professores. Resposta concreta e planejada para a questão da cidade universitária.
2-Data-base – regularização das datas-base e perdas salarias atrasadas. Instituição de calendário específico para reajuste salarial anual. Fim da política de subserviência ao governo estadual.
3-Promoções docentes – política séria e com previsibilidade das promoções docentes. Regularização de passivos.
4-Gratificação de produtividade e dedicação exclusiva (DE) – continuidade salarial da gratificação de produtividade e sua vinculação à produção acadêmica, em lugar do modelo projetivo em voga. Possibilidade de avanço da produtividade acadêmica ao regime de dedicação exclusiva.
5-transparência nos gastos – criação de mecanismos abertos de análise de pertinência de gastos da gestão, em especial com ações ligadas à propaganda e que não envolvam a comunidade acadêmica, para bom uso dos recursos financeiros da UEA.
6-Autonomia financeira – retomada do debate sobre a autonomia financeira da instituição, onde está e aonde deve ir.
7 – Fortalecimento das instâncias democráticas – no que tange à escolha de mandatários e outros processos internos da universidade.
8-Incursão política – com o fortalecimento da tarefa crítica e social da universidade, por meio da abertura de maiores espaços de discussão e debates sobre temas emergentes.
9 – Medidas contra privatização e bolsificação da UEA .
10 – Políticas afirmativas na UEA.
11- Respeito à autonomia sindical – sem ingerência por parte da gestão patronal e vice-versa, como determina a OIT.
Eleições UEA:
o deserto da democracia.
A democracia não é uma norma, um decreto, muito menos um regimento. Ela é o produto da prática de sujeitos livres que, imbuídos de um espírito de coletividade, resolvem pensar e agir pelo comum, num movimento que se encontra muito além da mecânica burocrática de leis e processos institucionais.
As eleições da UEA, principalmente este ano, evidenciam isso muito bem. Instituiu-se a escolha de reitor oficialmente, mas não se garantiram as condições democráticas de sua execução. Tampouco órgãos internos foram fortalecidos em termos de direito ao contraditório. Como ápice dessa dinâmica oligárquica, restringiu-se o poder de decisão quase que apenas à categoria docente. Os demais segmentos são praticamente apenas consultados, ou, no limite, servem de critério de desempate. Apoteose do voto hierarquizado.
O clímax resultante dessa degeneração política chega agora em 2025. Somente uma chapa inscrita. Seria possível pensar que se trata de uma aceitação tácita do bom trabalho feito, mas nos corredores não é isso que se escuta –algo que provavelmente se evidenciará na votação. De todo modo, a ausência de oposição não deixa nenhuma margem para o contraditório, para pôr em questão os desafios institucionais e os problemas que afligem a comunidade acadêmica. Em suma, é a apostasia da politização, que resume os rumos da universidade a rotinas administrativas.
A causa disso, como já acenamos, não vem de uma unanimidade, que por si só seria estranha, mas sim pela inibição do democrático. Fez-se a eleição, mas não se garantiram as instâncias de desenvolvimento da democracia, muito menos trabalhou-se para a produção de massa crítica interna. Desse modo, reduziram as ações ao puramente formal, sem substância viva de transformação autêntica.
O resultado, então, é o que se vê claramente. Uma nomeação estatal artificialmente referendada e, para a próxima gestão, nem vitória nem derrota, apenas um despacho de expediente. Nos importamos com isso? Está aí a pergunta verdadeiramente política.
O viés neoliberal da UEA:
a universidade privatizada?
Christian Laval, em seu livro A escola não é uma empresa (2019), nos incita a uma instigante reflexão a respeito dos processos de privatização da educação nesses tempos de novos arranjos no Mundo do Trabalho que convencionou-se chamar Neoliberalismo. A questão proposta pelo autor é perceber que a privatização não ocorre apenas com a clássica venda de estatais para o setor privado como ocorreu com a Companhia Vale do Rio Doce em 1997 ou a EMBRATEL em 1998, mas nos desafia a perceber que a privatização pode resultar na adoção de uma lógica de organização do Estado, nos quais a educação, a saúde, mesmo permanecendo públicos estariam a serviço da reprodução do capital.
Outro livro do mesmo autor, dessa vez escrito em parceria com Pierre Dardot, intitulado A nova razão do mundo, nos diz que:
A norma neoliberal quando se estende muito além do campo econômico stricto sensu, é acima de tudo a racionalidade do capital transformada em lei social geral e que tem impactado para pior a vida das pessoas através da degradação das condições de vida e trabalho, deterioração das instituições educacionais, universitárias e científica (DARDOT; LAVAL, 2016)
Acrescentamos a isso, os impactos no meio ambiente com potencial catastrófico para a vida humana.
O viés neoliberal da UEA
Não é de hoje, nem mesmo somente fruto da atual gestão, que a UEA naturaliza um viés neoliberal que teria como “missão” capacitar mão de obra para atuar no parque industrial amazonense e fomentar a competitividade deste através de projetos desenvolvidos em “parceria”, como ocorre com os PD&Is. Basta que para isso vejamos que a Agência de Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual da UEA (AGIN) foi instituída em 2011, ou seja, a influência direta do polo industrial está consolidada há quatorze anos . É preciso enfatizar, porém, que cada vez mais o léxico e a lógica neoliberal tomam conta da Universidade, com organização de formações de planejamento acadêmico para professores tratando de governança e inovação como a que ocorreu em julho deste ano.
Os números dos projetos de PD&Is impressionam: em informação coletada no próprio site da AGIN/UEA citam-se injeções financeiras da ordem de R$ 483.711.612,39 em mais de 154 projetos ao longo de 12 anos. Entre as principais “parceiras” temos as empresas Samsung, Callidus, Giga e Tectoy, que resultaram em cursos de especialização, oficinas, construção de laboratórios, prédios e, até mesmo, cursos de graduação.
Essa tendência de volumosos investimentos em pesquisa, inovação e desenvolvimento é mundial e tem um incremento absoluto, a partir dos anos 80 do século XX, principalmente em universidades dos EUA e Europa (LAVAL, 2019, p. 56). A fase atual do capitalismo denominada de acumulação flexível resultou em mudanças no processo de produção de mercadorias, gestão da mão de obra e padrão de consumo mediados pela inovação tecnológica (ANTUNES, 1999).
É preciso problematizar essas parcerias, pois se a inovação tem um papel cada vez maior na produção, a ciência está cada vez mais submetida às exigências de valorização do capital (LAVAL, 2019, p. 56). Temos a presença ostensiva dos logotipos das “empresas parceiras” na universidade, delimitando espaços e prédios. Além disso, há a apropriação privada de patentes e direitos autorais por parte das empresas e pesquisadores. A privatização de eventuais lucros não condiz com o caráter público da Universidade, além disso, foi o estado do Amazonas, através da UEA, que investiu anos na qualificação de seus servidores e é, por isso, que hoje temos tantos doutores.
Outra questão que nos salta aos olhos são as bolsas destinadas aos coordenadores e pesquisadores desses projetos de PD&Is: um mesmo pesquisador pode atuar em vários projetos e poderá receber “bolsas” que superam o próprio salário na universidade, o que poderá subverter a lógica de servir à sociedade que é a base do funcionalismo público e ainda acarretar prejuízos nas atividades pedagógicas e de ensino. É preciso regulamentar limites sobre todas essas situações.
As empresas investem diretamente nos projetos oferecidos pela universidade, há, inclusive, portifólios que podem ser consultados sobre esses projetos no site da AGIN/UEA (portifólio 2022 v. 1 e v.2; portfólio de projetos da indústria 4.0/2023; portifólio de projetos de healthtech/2024). É preciso entender, entretanto, que muitas vezes o dinheiro que entra é direcionado ao projeto e deixa de ser investido na forma de impostos que é o que sustenta toda a universidade (todos os cursos, inclusive aqueles que não interessam ao capital) e as políticas de permanência estudantil.
A subsunção à lógica do capital
A naturalização do debate sobre inovação como essencial para a competitividade das empresas joga para debaixo do tapete uma outra questão sobre esses novos tempos de modernização capitalista e acumulação flexível do capital. Falamos aqui, especificamente, sobre as condições em que se realizam o trabalho humano. Infelizmente, essa modernização não trouxe melhoras para a vida do trabalhador. A plataformização e a terceirização cresceram exponencialmente incrementando os lucros das empresas, mas piorando a vida do trabalhador através da precarização dos direitos trabalhistas e dos contratos de trabalho. Esse fator não deve ser esquecido pela universidade e seus pesquisadores.
Como dito, a UEA adota o léxico neoliberal a partir de um sentido positivo, da defesa dessas ideias, deixando de refletir a fundo suas contradições e, assim, vemos conceitos como empreendedorismo, inovação, liderança, bioeconomia, inteligência artificial serem naturalizados em nossa universidade!
Para finalizar, gostaríamos de chamar os professores, servidores técnicos e estudantes a refletirem sobre esse processo. Muitas pessoas nos dizem que a UEA deve servir ao Polo Industrial de Manaus, porque afinal viriam daí as verbas que nos sustentam. Fazemos, então, o convite para pensarmos de uma outra maneira: acreditamos que as verbas que nos sustentam vêm dos impostos pagos pela sociedade (trabalho do povo amazonense) que investe uma parte desse montante em nossa universidade, portanto, é ao povo trabalhador amazonense que devemos prestar conta. E nesse sentido, nossa luta histórica é atualizada no presente: a luta por uma universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. É possível construir uma outra lógica de modernização que sirva para melhorar a vida dos trabalhadores e não como tecnologia para promover o seu adestramento e a piora da sua qualidade de vida.
A máquina, triunfo do ser humano sobre as forças naturais, converte-se, nas mãos dos capitalistas, em instrumento de servidão de seres humanos a estas mesmas forças (…) a máquina, meio infalível para encurtar o trabalho cotidiano, prolonga-o, nas mãos do capitalista (…); a máquina, varinha de condão para aumentar a riqueza do produtor, empobrece-o em mãos do capitalista (MARX, apud PARIS, 2002, p. 235).
A empresa de terras — que é o banco quando tem terra — quer tratores, não famílias na terra. Um trator é ruim? A força que faz os longos sulcos é errada? Se este trator fosse nosso, seria bom — não meu, mas nosso. Se nosso trator fizesse os longos sulcos de nossa terra, seria bom. Não minha terra, mas nossa. Poderíamos amar aquele trator naquela época como amávamos esta terra quando era nossa. Mas este trator faz duas coisas — ele revira a terra e nos afasta dela. Há pouca diferença entre este trator e um tanque. As pessoas são motivadas, intimidadas, feridas por ambos. Precisamos pensar sobre isso. (Trecho do livro As vinhas da ira de John Steinbeck)
Segurança para quem?
Catracas eletrônicas instaladas nas Unidades dificultam acesso dos próprios membros da comunidade acadêmica e não trazem segurança à comunidade.
Quem frequenta as Unidades da UEA na capital certamente já passou por alguma dificuldade ao ingressar na área interna das mesmas. Com seu verniz tecnológico, as catracas eletrônicas de identificação facial instaladas tornam lenta uma circulação que deveria ser livre em um espaço democrático como é o da universidade, seja por falhas no aparelho, no cadastro ou no reconhecimento, gerando dificuldades nada justificáveis para algo que era bastante simples.
O argumento oficial disseminado é que o transtorno e a restrição compensam, em nome da segurança dos frequentadores da Universidade. Porém, para além das aparências, o discurso parece bastante especulativo, uma vez que não foi apresentado aos segmentos universitários nenhum estudo que comprovasse a necessidade de reforço na segurança interna dos prédios, nem tampouco a eficácia do mecanismo. Quanto ao debate público com a comunidade sobre a sua concordância ou não com a medida, isso sequer talvez tenha passado pelas mentes de seus executores. Sua aplicação foi totalmente vertical e antidemocrática.
Contudo, o mais curioso nesse caso é que todos sabemos que os maiores riscos à segurança são passados pelos estudantes e servidores que se locomovem nos arredores das Unidades, tanto na chegada quanto no retorno, principalmente à noite, em que se expõem aos riscos de assalto e outros perigos. No entanto, quanto a isso, as catracas não têm nada o que fazer.
Também em termos de providências nada está sendo feito. Tampouco a comunidade é ouvida em tais questões. De maneira que precisamos perguntar, diante da parafernália tecnológica restritiva, a seguinte indagação: segurança para quem e para quê? Mais uma vez, até agora, nem as telas ultramodernas ou seus entusiastas nos dão uma resposta.
O papel do indivíduo na história sindical:
todos nós somos o sindicato…
Todos nós somos o sindicato. Mas o sindicato também deve ser todos nós. Pensar dessa forma dialética não é simples, pois escapa à lógica binária de uma coisa ou outra, na qual fomos doutrinados desde pequenos. No entanto, esse modo de reflexão é necessário, pois somente ele põe a ação dos trabalhadores em efetivo e transformador movimento, rumo à mudança qualitativa social.
Dessa forma, a cada agente cabe uma tarefa precípua. Do lado dos associados, é preciso que estes se encontrem imbuídos de uma consciência de classe, de um espírito coletivo inexpugnável, que seja capaz de ultrapassar as naturais inclinações personalistas em favor das causas coletivas. Não que isso os apague enquanto sujeito, o que no final é impossível e opressor. Porém, diante de afetos menores e interesses individualistas ao extremo, deve-se sempre preferir as pautas maiores da coletividade.
Pelo lado da representação, além das qualidades acima, é preciso cobrar algo mais. Não deve esta somente portar-se de modo reativo frente às demandas da categoria. Ao contrário, é imprescindível que ela intervenha ativamente, demandando questões, propondo alternativas, indo ao encontro dos trabalhadores para ouvi-los atentamente e saber daquilo que os afeta, para depois converter essa escuta em linhas vigorosas de práticas de mudança. Tudo isso dotado de uma intensa atitude pública, que não se permite tocar por assuntos que não sejam do interesse legítimo da classe ora representada.
Assim, é somente dentro dessa união e dessa via de mão dupla que o SINDUEA poderá verdadeiramente ressurgir, e trabalhar conforme o lema geral dos operários do mundo inteiro: todo poder à classe trabalhadora!
É sob esses princípios que atuaremos, de maneira rigorosa e inegociável.
SINDUEA
Ultrapassar o assistencialismo sindical:
tarefa primeira das novas gerações.
Por si só, o assistencialismo aplicado às relações sindicais já é uma mostra de sua fragilidade que advém de uma visão sindical arraigada historicamente, que interpreta o sindicato como simples prestador de serviços que versam sobre direitos trabalhistas, ou pior, como mediador dos acordos entre patrões e empregados.
Desse modo, desenvolve-se uma postura passiva e apolítica por parte de seus membros, que se endereçam à diretoria como se esta fosse a simples responsável pelo atendimento a determinadas demandas coletivas ou individuais dos trabalhadores enquanto funcionários de uma instituição.
Sem dúvida, isso decorre de questões muito mais profundas no que tange às aparências. Não é só o óbvio produto de condutas particulares, e sim da condição estruturante de uma categoria habituada ao imediatismo sindical. Contra isso, é tarefa precípua da direção apontar para o caráter imanentemente coletivo do sindicato, que não é uma empresa nem um órgão de Estado, e sim o agregamento da vontade coletiva das classes produtivas, dentro do qual cabe à direção sobretudo o trabalho de constituir-se como vetor das reivindicações e interesses maiores da categoria, organizando-os e pondo-os em um direcionamento efetivo de luta, e que rume para ações evidentes.
No SINDUEA, é muito claro o viés assitencialista na sua participação, porém isso não deve depor substancialmente contra seus membros. Trata-se do resultado de anos e anos de parca militância. Contudo, é missão para a diretoria em luta laborar para que se enterrem essas concepções, e que cada associado torne-se ativo e contribuinte para nossa necessária luta sindical, em vez de um mero demandante. Isso é algo que se faz com muito diálogo, mas também com convicção e atitude.
O caminho pode não ser o mais fácil, muito menos o mais simpático, entretanto é o único viável para construir um sindicato à altura de seus desafios frente ao poder patronal. Seguiremos na luta.
Saúde mental e universidade – Afinal, quanto vale a nossa saúde mental?
Não é difícil conversamos com algum colega e perceber que as coisas não andam muito bem em nossa instituição. O acúmulo de trabalho, a falta de reconhecimento e a ausência de investimento em saúde mental e no combate aos assédios na Universidade são problemas graves que enfrentamos. Vivemos em uma sociedade que se altera e adoece ao mesmo tempo, intensificando cada vez mais sua noção de produtividade e do que é trabalho intelectual. Transtornos mentais causaram cerca de 2,6 mil afastamentos do trabalho no Amazonas no último ano, segundo dados do G1. A ansiedade lidera o ranking como um dos principais problemas de saúde mental.
Esse quadro preocupante é um efeito sombrio do contexto atual de nosso país e do mundo. E a UEA não está fora dele. Cada vez mais premidos pela necropolítica, pela polarização e pela produção a qualquer custo, os professores sentem-se cansados, de mão amarradas e até mesmo sem perspectiva para continuar na carreira. Uma pesquisa feita pela Universidade de Campinas (Unicamp) aponta para um apagão na nossa profissão. A mesma pesquisa aponta que os desafios são enormes e a saúde mental destaca-se em primeiro lugar. Em segundo, aparece o assédio moral e institucional. No interior, a situação se intensifica ainda mais, pois o acesso a tratamentos é bastante limitado. Enfrentar esse desafio é tarefa de uma instituição que tem seus servidores imersos no mundo da educação. Formamos pessoas, projetamos humanidade, portanto, precisamos de saúde.
O que queremos destacar também é que um ambiente saudável é um ambiente com democracia, escuta atenta dos pares, boas condições estruturais de trabalho e apoio acadêmico em todas as dimensões que envolvem uma vida universitária. Líderes que estão atentos às necessidades de sua comunidade são aqueles que aceitam a convergência como forma de avançar.
Propor ações, lutar pela efetivação de programas, fazer novos concursos, melhorar condições de trabalho dos professores da UEA são pontos fundamentais a serem implementados para enfrentar esses desafios que têm aumentado em nossas unidades. A Lei nº 10.216/2001 e a Lei nº 14.831/2024 são exemplos de dispositivos legais que obrigam as instituições a tratarem dessa pauta. Nós, do SIND/UEA, estamos atentos e atentas para essa questão e convidamos aos(às) colegas para se engajarem nessa reflexão.
Afinal, quanto vale a nossa saúde mental?
#sindicalismo #saúdemental #coletivizar
Geno feminicídio de Israel sobre Gaza::
70% das mortes em Gaza são mulheres.
Por Rita de Cássia Fraga Machado – UEA
Pensávamos que já tínhamos assistido a todo o terror do mundo até o genocídio de Israel em Gaza, que já dura mais de 20 meses. Um relatório da Anistia Internacional demonstra que a guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza constitui um crime de genocídio, segundo o direito internacional, ao passo que, para o governo de Israel e para a ONU, esse crime não se caracteriza como genocídio porque não há intenções fúteis de matar.
Se é explodir uma maternidade e matar mulheres e crianças com bombas de guerra não for Geno feminicídio, devemos encontrar outro conceito para o que seja “fútil”. Porque, ao explodir essa maternidade, Israel sabia o que funcionava no local e quem estava lá.
Em Origens do totalitarismo, publicado por Hannah Arendt em 1951, encontramos elementos essenciais para entendermos que o totalitarismo, infelizmente, permanece bastante atual. Basta olhar para os atrozes atos de violência e terror que estão sendo cometidos em Gaza. Talvez o elemento mais essencial do pensamento de Hannah Arendt seja a ideia que a democracia exige o respeito aos direitos individuais, separação de poderes, limitação do poder do governante pela lei, representatividade, alternância de mandatos. Tudo o que não estamos vemos em Gaza. Qualquer ideia de direito internacional, individual e dignidade humana se esvai diante do que está acontecendo em Gaza. Gaza extrapolou tudo que tínhamos como ideal de direitos humanos.
Mais de 70% das mortes em Gaza são de mulheres e crianças, segundo informações da CNN. As mulheres palestinas já eram vítimas de violência por conta de um regime patriarcal de alta intensidade, e esse quadro só se agravou com a guerra em Gaza. Por isso, o que está ocorrendo em Gaza, sob a responsabilidade de Israel, é um Geno feminicídio.
Geno feminicídio é a junção de dois crimes hediondos: o genocídio e o feminicídio. Por isso, a sociedade precisa se movimentar e se posicionar diante dessa situação. Devemos nos manifestar, nos revoltar e divulgar o máximo possível o que está acontecendo. As mulheres estão morrendo bombardeadas, de fome e de desespero por perder suas famílias. “Corri para a casa e a encontrei totalmente destruída, reduzida a um monte de escombros sobre meus filhos e meu marido”, disse Sahar al Najjar. Não é uma questão religiosa, o que acontece em Gaza é a expressão mais brutal do desejo de poder pelo poder dos homens, que continuam a achar-se donos de mundo, inclusive decidindo quem deve morrer e quem deve viver.
Palestina livre! Pelas mulheres palestinas!