Artigo: a universidade sob fogo cruzado – por Luciano Teles

A universidade pública, gratuita e de qualidade, especialmente nesses últimos quatro anos, passou a ser atacada de forma constante e intensa, seja ela federal ou estadual. Os predicados direcionados a ela e aos seus professores, alunos e técnicos são absurdos e deploráveis: espaço da “balbúrdia”, do consumo de “drogas fabricadas internamente em seus laboratórios de pesquisa”, da formação de “militantes esquerdopatas” por professores “doutrinadores”, antro de “comunistas”, dentre outros.
Além disso, ela passou a ser assaltada também financeiramente, com cortes sucessivos em seu orçamento, que impactam o seu funcionamento pleno. Cortes e discursos que tentam desqualificá-la fazem parte do projeto de destruição da educação superior pública desse país e dos seus objetivos mais gerais de formação de profissionais, cientistas e cidadãos reflexivos e críticos, capazes de interpretarem a realidade social e de mudá-la para melhor.
A quem serve esse projeto? O que explica o apoio de alguns professores a ele? Perguntas para reflexões.
Focando particularmente na UEA, algumas coisas são preocupantes. Precisamos tocar nelas, e faremos isso as pontuando.
1) Os recursos financeiros da UEA advêm do faturamento das empresas do Polo Industrial, existente por força da implantação de uma Zona Franca em Manaus. Esse modelo econômico é sistematicamente e deliberadamente atacado pelo governo Bolsonaro. Paulo Guedes, seu ministro da economia, já disse em alto e bom tom que é contra a Zona Franca de Manaus. Aqui com uma só “paulada” Guedes tem o desejo de matar dois “coelhos”: O PIM e a UEA. Como podem professores que trabalham na UEA apoiar alguém que quer acabar com ela? Isso é um suicídio individual e coletivo!
2) Do mesmo modo, o governo Bolsonaro já se colocou publicamente contra o funcionalismo público. O próprio Paulo Guedes já expressou por várias vezes o que este governo pensa dos servidores públicos: que “ganham muito”, “trabalham pouco”, “são ineficientes”, “possuem muitos privilégios”, “são vagabundos”, etc. Quem trabalha na UEA é também servidor público. Como pode alguém da UEA apoiar tal governo? Não custa repetir, isso é um suicídio individual e coletivo!
3) A UEA é estadual. Temos um governador (as pesquisas apontam que provavelmente será reeleito) que muito pouco ou quase nada fez por ela e seus profissionais. E ainda apoia quem quer destruir a Zona Franca de Manaus, quem ataca as universidades públicas e os servidores públicos.
4) Em função do apoio a esse projeto de destruição da educação superior e do pensamento crítico social, Wilson Lima destratou a UEA e seus profissionais, não reajustando os seus salários, não pagando os valores retroativos devidos a eles e, sobretudo, não investindo na ampliação da infra-estrutura, da qualificação profissional e da ampliação de novos cursos de formação de recursos humanos, principalmente nos municípios localizados ao longo do rio Amazonas e seus afluentes.
5) A Universidade do Estado do Amazonas somos todos nós, professores, técnicos e alunos, que atuamos cotidianamente para dinamizá-la, movimentá-la em suas atividades acadêmicas gerais. Necessitamos urgentemente defendê-la, pautando o debate público sobre 1) a magnitude dela para a formação de profissionais, cientistas e cidadãos que saibam pensar de forma autônoma e crítica, 2) a relevância dela para o desenvolvimento científico e tecnológico do Amazonas e do Brasil, 3) a notoriedade dela na produção de conhecimento científico e tecnológico e nos processos de ensino e extensão, 4) o valor dela e de seus profissionais para a sociedade em geral.
Enfim, não há como apoiar um governo que quer desmantelar e acabar com as universidades públicas, e nem ações e atitudes que somem nesse caminho. É a nossa existência que está em jogo! Lutemos pela UEA (e pelas demais universidades públicas, gratuitas e de qualidade).