Convite para um reencontro – por Cláudia Maria de Farias

Convite para um reencontro – por Cláudia Maria de Farias

No domingo, 30 de outubro de 2022, dia em que Lula foi eleito democraticamente, pela terceira vez, Presidente do Brasil, me recordei de um período marcante da minha vida. Momento em que eu, uma jovem de 18 anos, ingressava na Universidade Federal Fluminense, em 1982, no curso de graduação em História, cheia de sonhos e esperanças num país que vivia o fim da ditadura militar. Naquela época, a sociedade brasileira já havia conquistado certas liberdades e direitos; as lutas pela redemocratização, articuladas por diferentes setores e movimentos sociais, trouxeram de volta exilados políticos e permitiram a criação de vários partidos, entre os quais, o PDT e o PT, este último fundado pela classe trabalhadora.Eu e “meus amigos de História da UFF” víamos com muita alegria e otimismo o surgimento de Lula, da sua liderança tão combativa. Discutíamos na universidade outros rumos e sentidos de participação política. Ventos de renovação sopravam…
Como parte daquela juventude, eu desejava liberdade, justiça, igualdade, fraternidade e dignidade para todos e todas. Ainda me lembro de ouvir incessantemente nas rádios, a música de Milton Nascimento, “coração de estudante”, um hino que guiava a minha entusiasmada geração na conquista do voto direto para Presidente da República, proposição da emenda à Constituição Dante de Oliveira, em 1983.
Porém, em 25 de abril de 1984, a rejeição da emenda pela Câmara dos Deputados causou a minha primeira frustração e indignação política. Chorei muito.

Afinal, a campanha das Diretas Já, realizada ao longo de 1983 e início de 1984, tinha reunido milhões de pessoas no país, políticos de diferentes matizes ideológicos, em torno de um propósito comum: a volta da democracia por meio de eleições livres e diretas para presidente! “Um, dois, três, quatro, cinco mil, queremos eleger o presidente do Brasil” era o principal coro entoado por mim e pelas multidões em festa.
Sim, era a festa da democracia! Sem dúvida, uma das maiores manifestações republicanas deste país. Como toda jovem imediatista, pensei ser o fim, não tinha ainda a devida consciência sobre os desdobramentos dos processos históricos, seus avanços, recuos e retrocessos. Mas, na verdade, aquele seria o golpe final do já cambaleante regime militar que censurou, perseguiu, torturou e matou muitas pessoas.
Quase um ano depois, em janeiro de 1985, Tancredo Neves, se tornou o primeiro presidente civil do Brasil, eleito indiretamente pelo colégio eleitoral, encerrando um período de 21 anos de ditadura. Embora eleito, não tomou posse, falecendo meses depois. Em seu lugar, José Sarney, o candidato à vice- presidente da chapa Tancredo Neves, assumiu o comando da Nação.
Durante seu mandato, nossa atual Constituição foi promulgada em 1988, um marco para a consolidação do Estado democrático e de direito no Brasil. Um ano depois, brasileiros e brasileiras decidiam novamente nas urnas o presidente da República. E eu, votei em Lula pela primeira vez.
A essa altura, você deve estar se perguntando quais as razões me levaram a recordar destes episódios vividos por mim. Vou me explicar: hoje tive um reencontro comigo, tivemos um reencontro conosco, com nossa humanidade! Decidimos lutar pela Democracia, obviamente em outro contexto, bem diferente do anterior, reunindo em torno da chapa Lula-Alckmim, até então adversários históricos, uma Frente Ampla com vários nomes do espectro político nacional.
Era preciso, e ainda é, lutar contra a barbárie, o ódio e a desinformação que se naturalizaram no Brasil; lutar contra o fascismo e as ameaças escancaradas feitas às instituições democráticas por Jair Bolsonaro e seus furiosos seguidores. Porém, apesar da alegria e da esperança que tomam conta de mim, vos digo: isso é só o começo! Não devemos ignorar nossas histórias, relegar nossos mortos ao esquecimento.
Devemos estar dispostos e dispostas a reconstruir e aprofundar a democracia, nos mobilizar para combater a fome, o racismo, a misoginia, a homofobia e outras formas de violência e opressão tão arraigadas entre nós. Esta é uma tarefa da sociedade brasileira! E ela é urgente!

*Cláudia Maria de Farias, professora doutora do curso de História do NESPF/UEA.

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