Artigo: um novo ano se inicia – Por Mônica Xavier*

Um novo ciclo se inicia em 2023. O balanço do que passou não pode incluir apenas o ano de 2022, o dia 31 de dezembro fechará um período em que vivenciamos um golpe de estado jurídico-parlamentar apoiado pela mídia, que depôs a presidenta Dilma Rousseff, legitimamente eleita. Após o golpe, foi aberta a caixa de pandora do neoliberalismo, de onde saíram muitos males, como a Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência, aprovação da Lei do Teto de Gastos, aprovação da Lei da Terceirização e a Reforma do Ensino Médio.
Um professor da UEA mais distraído pode pensar que estas reformas, que se deram em nível federal, não nos atingiram, porém, essa postura é um ledo engano. Primeiramente, porque a Reforma da Previdência se espelhou no Estado e tivemos aumento da nossa alíquota de contribuição previdenciária. Além disso, vivemos todo o desalento de um país que não cresceu, que não gerou empregos, que se desindustrializou, apesar das tantas Reformas aprovadas (o que afinal mostrou que os sindicatos estavam certos em tentar barrá-las).
Como se já não fosse o bastante, a partir de 2020, também enfrentamos uma pandemia. Nós, professores da UEA, por sermos funcionários públicos concursados, tivemos o direito de permanecer em casa, mas essa não foi a realidade de nossos alunos.
Em agosto de 2020, com a adoção do Ensino Remoto na UEA, os alunos que já viviam a perturbação de não ter como se manter financeiramente ainda tiveram de lidar com aulas remotas em que a internet se tornou um recurso indispensável. Aqui no interior do estado, o emprego formal, que já é escasso, sumiu de vez e a internet ficou ainda mais cara. Muitos abandonaram seus cursos, foram para Manaus tentar a sorte (a história trágica que se repete).
Os professores tiveram que lidar sozinhos com a contratação de novos planos de internet e do equipamento necessário para as aulas remotas. Sabemos que é um direito trabalhista que o empregador financie as condições necessárias para que o trabalho se desenvolva, mas não foi o que ocorreu. Concordo com Ana Carolina Galvão e Demerval Saviani quando questionam a implementação do ensino remoto e afirmam que de jeito nenhum este era necessário.
As escolas (e por consequência a Universidade) deviam sim contactar os seus alunos durante a pandemia, mas não para tentar ensinar conteúdos à distância, mas para entender as condições em que nossos estavam vivendo e garantir a sua alimentação.
Sim, nossos alunos passaram fome e se isso não dói na gente, é melhor trocarmos de profissão. Por isso, precisamos pensar em perspectiva, além de fazer um grande balanço quantitativo e qualitativo das consequências da Pandemia na UEA. Qual foi a taxa de evasão? Quantos alunos e familiares morreram? Quantos professores/funcionários e familiares morreram?
No fundo da caixa de Pandora ficou a esperança e é com ela que começamos 2023. Derrotamos o fascismo nas urnas e agora precisamos derrotar o fascismo nas ruas. Lula tomou posse. Aqui no Amazonas, o primeiro governo do Wilson Lima mostrou que ele não dialoga com os profissionais da educação.

É preciso avançar, temos que nos fazer ouvir. A luta pelo reajuste salarial e por melhores condições de trabalho é estratégica para que a UEA não retroaja, para que continue sendo uma universidade onde as pessoas querem estudar e trabalhar. A luta pela universidade pública, gratuita e de qualidade socialmente referenciada nunca foi tão importante no Amazonas para que a gente consiga avançar o que retrocedemos na pandemia e ir além.

* Mônica Xavier é professora do curso de licenciatura em História da UEA em Parintins (AM).