Artigo – A docência feminina no Ensino Superior: um convite à reflexão

Artigo – A docência feminina no Ensino Superior: um convite à reflexão

A docência feminina no Ensino Superior: um convite à reflexão

Por Elaine Andreatta

Nesta semana, participei de um evento acadêmico promovido pelo NúcleoInterdisciplinar em Gênero e Sexualidade, da Universidade do Estado do Amazonas:
Mulheres e Feminismos na Amazônia: academia e movimentos sociais. Na mesa redonda em que me encontrei, acompanhada por duas colegas de pós-graduação da Unicamp, apresentamos como tema as narrativas (in)visíveis do corpo/sujeito feminino, abarcando enredos de mulheres em privação de liberdade, mulheres em situação de rua e mulheres de movimentos sociais feministas na Bolívia. Esse evento bonito e importante, que faz referência ao 08 de março, mais do que mobilizar o meu pensamento para produzir uma apresentação sobre as pesquisas que venho realizando nos últimos anos, também me proporcionou refletir sobre o meu próprio lugar como mulher, pesquisadora e professora universitária.
É fato que o processo de inserção da mulher no Magistério tem relação direta com sua saída gradativa da esfera privada para adentrar a esfera pública, primeiro ocupando as classes primárias, depois as secundárias, para, enfim, ocupar espaço no Ensino Superior. Isso não sem lutar pelo direito de cursar esse nível de ensino, o que só foi permitido formalmente em 1879 no Brasil. No entanto, estar neste espaço não significa garantia de equidade de direitos, uma vez que, se a universidade está no mundo, e se esse mundo ainda abriga uma sociedade machista, as relações de poder no meio acadêmico também repercutirão os sintomas de uma cultura patriarcal, reverberando diversas violências de gênero. Lamentavelmente, ainda se produzem diferenças e hierarquias que são empreendidas contra as mulheres cotidianamente na universidade. Mesmo que a comunidade científica tente se apropriar da crítica feminista, reproduzindo em suas aulas e em suas pesquisas debates profícuos de relações de gênero, os deslocamentos ideológicos ainda necessitam ir além do debate, criando rupturas mais potentes de uma ordem estabelecida.

Por isso, as iniciativas para combater a desigualdade de gênero ensejadas pela universidade, tal como o evento que mencionei no início deste texto, são fundamentais. Se a universidade é mais um espaço dentro de um grande cosmos que reproduz desigualdades, a luta contra a invisibilidade das mulheres por meio de educação pública e popular, o estabelecimento de redes entre academia e movimentos sociais, assim como as ações de ensino, pesquisa e extensão que se voltam a refletir, analisar e combater as diversas situações de opressão às quais as mulheres, em diferentes espaços, estão submetidas, são avanços importantes que devem ser mencionados para que se possa entender o quanto ainda há a ser conquistado. E, sim, há muito!

Desse modo, o comprometimento com uma política feminista significa também sermos capazes de confrontar as questões de gênero dentro do nosso próprio contexto para que, como afirma Hooks (20013, 152) 1 , possamos proporcionar “respostas significativas para perguntas problemáticas e meios acessíveis e apropriados para comunicar essas respostas”. A docência exercida por mulheres no Ensino Superior, longe de ser reduzida à ideia de vocação, tem muito a dizer a que veio se permeada por uma luta feminista e antirracista, em um movimento de abandono aos ideais elitistas de formação acadêmica.

Sigamos na luta, companheiras! E de mãos dadas, porque diante dos cenários que vivenciamos, a solidariedade feminista não deve dar lugar aos egos e às competições.

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1 HOOKS, bell. Ensinando a Transgredir: a educação como prática de liberdade. Trad. Marcelo Brandão
Cipolla. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.

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